O Pregão

O pregão nada mais é do que o funcionamento do mercado, quando há pessoas reunidas fazendo suas ofertas de compra e venda, e estas podem ser realizadas. É preciso diferenciar o pregão viva voz, tradicional, do pregão moderno, eletrônico. A essência é a mesma, mas o pregão eletrônico permite oferecer uma série de garantias que o pregão em viva voz não podia. Isso é fundamental para a chegada do pequeno investidor.

O pregão viva voz

No pregão viva voz os desejos de compra e venda são ditos (gritados) em um círculo formado por pessoas interessadas em comprar ou vender. As pessoas aceitam a oferta, integral ou parcialmente. Registros são feitos em cartões e a data e hora são carimbadas. Terminado o pregão, levava-se horas processando todas as transações para se chegar a conclusão de quanto cada um tinha. A entrega dos papéis e do dinheiro era três dias depois – e ainda é assim.

Cada negócio realizado a um certo preço significa que aquele preço é bom para o comprador e para o vendedor, uma vez que ninguém está sendo obrigado a comprar ou vender. O último preço negociado é a referência de preço para o mercado – a cotação. Ela pode mudar a cada negócio.

Para facilitar, o preço que uma ação vinha sendo negociada era escrita com giz em uma lousa – até hoje usa-se o termo “está na predra” para a primeira cotação da fila, vem do tempo em que a lousa era empregada para este fim. Hoje a cotação pode mudar várias vezes por segundo, pois tudo é digital.

O pregão viva a voz impõe uma série de limitações, muitas das quais afetavam diretamente os pequenos investidores.

A primeira é uma limitação do número de participantes. Não há espaço para muitas pessoas no círculo, e cada participante do círculo não podia representar muitas pessoas ao mesmo tempo. Assim, o número de pessoas participando no mercado em um determinado momento é limitado. Hoje, com o pregão gerido por um computador, e essa limitação desapareceu.

A segunda é a capacidade de processamento de ordens. Como devem ser processadas a posteriori, seu número também era limitado por isso. Não adiantaria realizar milhões de operações se a “compensação” disso levasse dias. No pregão digital esse problema não se põe, o processamento pode ser imediato.

A terceira é a pessoalidade da relação. Como o investidor não possui informação sobre o pregão, está implícita uma relação de confiança entre o participante do pregão e o investidor. Neste caso o investidor estaria sujeito, em princípio, a atenção diferenciada, pouco interesse ou até desfavorecimento. Ora, o mercado é limitado, a quantidade de ordens processáveis é limitada, então há uma tendência natural em atender prioritariamente os investidores maiores. Novamente, o pregão digital resolve esse problema.

Até hoje temos, entretanto, o mito que os grandes investidores possuem possibilidades superiores aos pequenos. Operar grandes volumes também impõe limitações ao grande investidor. O pequeno investidor está livre delas. A verdade está, então, no meio termo: pequenos e grandes investidores possuem aspectos que facilitam e que dificultam sua ação.

O grande investidor possui, isso sim, maior capacidade analítica. Pode, por exemplo, enviar representantes às empresas que busca informação, e ver in loco o que acontece.
Possui, também, capacidade de utilizar grandes volumes para movimentar o mercado numa direção. Isso só deve preocupá-lo se você estiver operando em prazos curtos. No longo prazo essas movimentações podem até ser oportunidades para você. Grandes investidores não podem sustentar essas movimentações por muito tempo – lembre-se que há outros grandes investidores que podem fazer frente a essas movimentações.

A quarta é o custo de transação. Antes a transação envolvia uma série de etapas manuais, portanto era dispendiosa. Hoje o custo da transação é menor, o que permite acesso a mais pessoas e permite realizar mais operações. Há mercados completamente novos e impensáveis há algum tempo, como as transações em alta frequência.

O pregão digital

Assim, o advento do pregão digital permite a chegada do pequeno investidor pela sua capacidade física, pelo custo, pela transparência. Una isso à Internet: o mercado está acessível a todos.

Graças às novas tecnologias – e a outros fatores, principalmente regulatórios – estamos iniciando um momento de inclusão ao mercado de capitais.

Além disso, o pregão digital permite a criação de novos mercados, antes impossíveis, como as operações em alta frequência, as operações automáticas, incluindo a arbitragem.

Há uma boa e longa discussão que podemos ter sobre os efeitos da presença de operações automáticas. Algumas podem estabilizar o mercado, como as arbitragens estatísticas. Outras, como a presença de milhares de stops (ordens de venda automática em caso de queda), podem aumentar a volatilidade, provocando um efeito avalanche chamado violino. Isso sai, entretanto, do escopo deste livro.

Um pregão digital permite, também, auditorias. Tudo que ocorre pode ser registrado e verificado mais tarde, como as “caixas pretas” das aeronaves.

Podemos ir além, certas auditorias podem ser feitas em tempo real e automaticamente por computadores. Sistemas parecidos com os detecção de fraudes em cartões de crétido podem ser utilizados para monitorar o mercado e, por exemplo, colocá-lo em leilão preventivamente, dando oportunidade a todos de entender ou participar da tal “anomalia”.

Resumindo, o pregão digital permite velocidade, inclusão de todos, baixo custo, rastreabilidade e auditoria – inclusive em tempo real – e impessoalidade – é possível garantir que todos tenham acesso às mesmas condições.

A seguir vamos entender o que é essa coisa que você compra na Bolsa, o que é uma ação.

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